COMO A ALTITUDE AFETA O DESEMPENHO DO CARRO
Entenda o que acontece no coração do seu veículo com a variação da pressão atmosférica
Quem já viajou para cidades como Quito, no Equador (a 2.800 metros acima do nível do mar) ou La Paz, na Bolívia (3.500 metros) sabe bem os efeitos que a altitude elevada pode provocar. Um pequeno esforço físico pode ser seguido de uma incômoda falta de ar, assustando os desavisados. Isso ocorre porque, quanto mais alto, menor a pressão atmosférica – ou seja, as moléculas de ar (e, consequentemente, de oxigênio) estão mais espalhadas. De uma forma parecida, a altitude também afeta o seu carro.
Afinal, a combustão no interior do motor depende do oxigênio existente no ar. Mas é preciso dizer que a substituição do velho carburador pela injeção eletrônica atenuou bastante essa questão. “A central eletrônica monitora a pressão atmosférica e faz correções para minimizar essa questão”, explica Henrique Pereira, membro da Comissão Técnica de Motores Ciclo Otto da SAE BRASIL. “Ela ajusta o volume de combustível injetado e faz o avanço ou atraso da ignição, para que a queima do combustível aconteça da forma mais eficiente possível”.
Terra Brasilis
Essa evolução tecnológica fez com que a questão da altitude praticamente passe despercebida atualmente no Brasil. A cidade mais elevada em território nacional é Campos do Jordão (SP), localizada 1.600 metros acima do nível do mar, onde motoristas mais atentos e experientes podem sentir uma certa perda de rendimento. Mas, para a maioria, essa mudança passa despercebida – principalmente porque a variação é mais sentida na faixa de potência máxima.
Pereira afirma que, na época do carburador, os efeitos da diferença de altitude eram mais notórios. “Era muito comum um veículo regulado para andar em São Paulo, capital, localizada a 760 metros de altitude, descer para o litoral e seu motor morrer ao parar no primeiro semáforo”, recorda. Nesse caso, ao chegar ao nível do mar, a admissão de ar aumentou em função da maior pressão, fazendo a mistura ficar pobre. “Aí, uma vez regulado para andar ao nível do mar, ao subir de volta para a capital, chegava com um desempenho péssimo, pois a mistura ficava muito rica.”
Mesmo com o avanço da eletrônica, as fábricas precisam ter os mesmos cuidados no desenvolvimento de seus automóveis em relação à altitude. Os valores declarados de potência equivalem a resultados obtidos ao nível do mar, mas os testes de desenvolvimento e homologação também são feitos em áreas mais elevadas. Muitas marcas costumam levar os veículos de teste para o ponto mais elevado do território brasileiro em que é possível chegar com um carro, o Pico de Itapeva, em Pindamonhangaba (SP), a pouco mais de 2.000 metros do nível do mar, para validar o funcionamento de seus motores.
Os mais e menos afetados
O fato é que veículos com motores aspirados de menor deslocamento volumétrico, por já terem uma potência máxima reduzida, são aqueles em que os motoristas tendem a sentir na pele a perda de potência. Já em veículos com motores maiores, que funcionam no dia a dia com uma boa “sobra” de torque e potência, é provável que o motorista não sinta diferença alguma.
Além disso, veículos equipados com motores turbinados tem uma perda efetiva menor. Afinal, o turbo comprime o ar que é admitido na câmara de combustão, compensando, ao menos em parte, a redução na pressão atmosférica.
Vai viajar?
Para quem planeja se aventurar em países de altitudes mais elevadas, os cuidados com o veículo devem são os mesmos de qualquer outra viagem. Como vimos, não é necessário fazer nenhum tipo de alteração no veículo – a própria central eletrônica se encarrega de avaliar a pressão atmosférica e fazer os ajustes necessários.
Obviamente, o motorista precisa estar ciente da inevitável perda de rendimento do veículo, principalmente se for um motor de baixa cilindrada – além, também, de estar preparado para os efeitos que a altitude pode ter em seu próprio corpo